terça-feira, 10 de janeiro de 2017

A CRIANÇA QUE DESMAIA




O desmaio ou perca de consciência, pode ter muitas causas, como causas neurológicas (p.ex. epilepsia) causas metabólicas (p.ex. diabetes descompensada) causas cardíacas (p.ex. arritmias graves), traumatismos, intoxicações, infecções (p.ex. meningite), causas do sistema nervoso autónomo (p.ex. medo de tirar sangue). A maioria das crianças que perdem a consciência, têm uma síncope. Síncope é uma perca transitória de consciência, por uma causa muito específica, ou seja, uma falha na irrigação sanguínea do cérebro. Esta crise tem início súbito, curta duração, a criança recupera totalmente e não deixa lesões internas. Esta falta transitória de irrigação no cérebro, tem duas causas principais: - síncope reflexa, na grande maioria dos casos, e é uma causa benigna. - síncope cardíaca, uma minoria, mas a mais preocupante.

 A SÍNCOPE REFLEXA é um grupo heterogénio, cujo mecanismo comum consiste numa vasodilatação periférica, consequente baixa na tensão arterial e falta de irrigação no cérebro. Acontece tipicamente nos adolescentes, mais nas raparigas, e diminui a ocorrência com a idade adulta, mas por vezes pode voltar na 3ª idade... Aos mecanismos reflexos podem juntar-se outros físicos, como exercício físico intenso, muito tempo na posição de pé... Este grupo recebe também outros nomes como síncope vaso-vagal, síncope neuro-cardiogénica. Os motivos mais típicos e frequentemente desencadeantes deste tipo de síncope, são: - Posição de pé prolongada, especialmente ao calor, ou em espaços fechados, ou em grandes aglomerados de pessoas ... - Estados emocionais, como a dor, tirar ou ver sangue, mesmo cortar o cabelo, ou ver filmes e programas que possam impressionar ... - Falta de dormir, jejum, falta de beber água, menstruação, doença febril. - Acto de urinar ou defecar. - A seguir ao exercício físico violento. - Levantar-se de repente. - Alguns medicamentos, ou álcool, drogas ilícitas. Na síncope reflexa quase sempre a criança sente-se mal antes de desmaiar. Sente a cabeça vazia ou oca, tontura e fraqueza. A visão torna-se turva, vê tudo mais claro, ou diminui o campo de visão. O coração pode acelerar ou ter palpitações. Pode ficar mal disposta, ou ter dores de estômago Pode sentir calor ou frio, ter palidez facial e começar a suar. Algumas vezes a crise fica só por estas sensações e a criança não chega a desmaiar. É a chamada pré-síncope. Este tipo de síncope vaso-vagal é benigna, transitória e não causa lesão orgânica. A criança em geral prevê que vai desmaiar e não costuma magoar-se, mas nem sempre é assim... Estas síncopes reflexas ou as pré-síncopes, são geralmente recorrentes.
 A SÍNCOPE CARDÍACA
As síncopes cardíacas fogem a este padrão mais ou menos típico, ie, trata-se da primeira síncope, que aconteceu subitamente, sem estímulos desencadeantes, seja durante o exercício, com dor no peito, sentindo uma arritmia. Neste contexto, pode haver uma causa intrínseca cardíaca, em que o coração, devido a uma doença grave, não consegue bombear o sangue eficazmente. Estas síncopes exigem uma investigação, em geral, mais agressiva.

ABORDAGEM DAS SÍNCOPES
 Quando uma criança desmaia pela primeira vez, deve consultar o seu médico assistente. Este fará uma história clínica cuidada, que é um dos elementos mais importantes na avaliação. Algumas vezes a mãe, ou o pai, ou um irmão/ã mais velho tiveram estas crises na sua adolescência, e isto pode ser um dado tranquilizador. Uma avaliação física e laboratorial é também importante. O Pediatra costuma também pedir uma avaliação pela cardiologia pediátrica e eventualmente pelo neurologista pediátrico, se quer excluir com segurança uma causa neurológica. O Cardiologista Pediátrico, avaliando a situação dum modo global, tem, por um lado, a preocupação de excluir uma causa cardíaca, e por outro, confirmar uma causa benigna de síncope. Para isso existe uma série de exames, que vão desde o electrocardiograma simples, a estudos mais complexos que passam pelo ECG de 24h, o detector de arritmias de uma ou mais semanas de duração, ou mesmo um estudo invasivo electrofisiológico. O teste da mesa basculante ocupa um lugar particular e é determinante para se concluir se uma síncope é ou não de causa reflexa vaso-vagal.

  COMO TRATAR?
 As síncopes reflexas não precisam de tratamento medicamentoso, a não ser que interfiram seriamente na vida prática da criança, quer pela frequência quer pelas situações em que ocorrem. O tratamento das síncopes reflexas começa por assegurar aos pais e ao jovem, que esta situação é benigna e não põem, por si, a vida em risco. Uma vez identificadas as causas procuram-se evitar, se possível, mas a tomada de consciência delas ajuda bastante. O adolescente deve beber bastante água durante o dia, coisa que habitualmente não faz, até que a sua urina fique clara. E se tiver a tensão arterial normal, não deve restringir a ingestão de sal, coisa que acontece em certas famílias, quando um ou mais membros são hipertensos. Deve também evitar jejum prolongado, estar de pé por longos períodos, passar de repente da posição sentado ou deitado à de pé, quando possível, assim como evitar ambientes muito aquecidos. Se o jovem sente que vai desmaiar, duas atitudes podem abortar este desfecho: 1 – Deitar-se no chão e pedir para lhe levantarem as pernas. Isto melhora a irrigação cerebral. 2 – Contrair fortemente os músculos dos braços, unindo as mãos e esticando os braços durante pelo menos dois minutos, como se estivesse a espreguiçar. Contrair concomitantemente os músculos das pernas também, pode ajudar. Isto faz subir a tensão arterial e pode abortar a crise.

  CONCLUSÃO
Os desmaios na adolescência são frequentes, a esmagadora maioria são síncopes benignas, ainda que possam recorrer e preocupar os Pais. Quando uma criança desmaia pela primeira vez deve ir ao médico para esclarecer a causa. Uma vez confirmada a causa há tratamentos eficazes quando necessário. Mas uma vez confirmada a causa benigna reflexa, dar segurança à criança e aos Pais é muito importante, e existem medidas simples que podem melhorar os sintomas.



Páginas