sexta-feira, 29 de novembro de 2013

O SEU FILHO TEM UMA CARDIOPATIA?





As cardiopatias congénitas são as malformações mais frequentes no recém-nascido. Cada vez mais cedo são dadas aos Pais informações seguras sobre o decorrer da vida do seu bebé, se está tudo bem, se existem ou não preocupações. Provavelmente as alterações cardíacas e as cerebrais são as que mais assustam os Pais. E hoje em dia, numa gravidez vigiada e com os avanços tecnológicos, é muito raro um bebé com um problema cardíaco importante ter alta da maternidade sem que isso seja descoberto, exceptuando as situações que se manifestam só pelo fim da primeira semana, mas, em geral, estas são de fácil resolução. Quer seja durante a gravidez, quer seja ainda na maternidade, os problemas cardíacos importantes costumam ser diagnosticados. Quando os Pais recebem esta trágica notícia, é como se desmoronasse toda a estrutura que sonharam à volta do seu bebé, que queriam ver saudável e feliz. É como se um tufão passasse por aquela sala, naquele momento. Sentem-se completamente indefesos, assustados, desorientados. Durante a gravidez, esta notícia assume aspetos ainda mais trágicos, num clima do desconhecido, da incerteza, do que se não vê, do que não se sabe se causa sofrimento ao bebé ou não. Cabe ao médico estar muito seguro e calmo, fornecer toda informação de que dispõe, sabendo de antemão que os Pais não vão compreender grandes e longas explicações naquele momento. Uma futura avaliação a curto prazo, de preferência com um especialista na área, será mais esclarecedora. Nesse momento surgem as habituais perguntas, sobre a gravidade da doença, sobre as consequências, sobre a qualidade de vida do bebé, se vai precisar de ser operado ou não, se vai ser uma criança normal ou não, se pode praticar desporto como os outros. E os Pais têm que assumir uma decisão muito difícil por vezes, que é, se embarcam ou não no desafio de ter e criar um filho com uma doença importante, ou se desistem e interrompem a gravidez. Esta decisão tem que ser tomada pelo casal, numa vontade mútua, firme e esclarecida, porque o desafio de cuidar de um filho com uma doença importante pode unir mais ou então separar o casal. Por vezes o casal desiste deste desafio, e optam pela interrupção da gravidez, justificando que não querem ter um filho para que este venha a sofrer. Mas isto não é bem verdade, porque todos os que cuidam destas crianças sabem, com o sucesso dos tratamentos, como elas se tornam crianças felizes e activas. O tratamento das cardiopatias congénitas evoluiu muito nos últimos anos. Situações aparentemente complicadas, são quase sempre resolvidas pela cirurgia de modo a oferecer à criança uma actividade motora e mental normal. Os Pais devem-se sentir muito bem informados e esclarecidos das dúvidas que têm, e antes de tomarem qualquer resolução, devem também discutir com o cirurgião, que os informará da sua experiência e dos seus resultados no tratamento da doença do seu filho. Em geral as crianças com cardiopatia têm uma inteligência normal, e não têm mais nenhuma doença a não ser no coração, a não ser que tenham, por exemplo, alterações cromossómicas que implicam atraso mental. Mas isso não é o mais frequente, e a análise dos cromossomas é então recomendada. Nas cardiopatias muito graves corre-se o risco, ainda que pequeno, de o tratamento poder interferir na actividade mental da criança. A troca de experiências entre Pais que passaram por situações semelhantes, parece-nos muito importante. Os Pais que fizeram a opção positiva para o bebé, são pessoas de luta e esperança, e a transmissão desses sentimentos pode ser encorajadora. Concluindo A notícia de que o bebé tem uma cardiopatia é demolidora psicologicamente. Exige um esforço pessoal, do casal e do médico para ser bem compreendida e aceite. As cardiopatias, em termos grosseiros, podem ser simples, graves, moderadamente graves e muito graves. As simples não precisam de tratamento, ou então tratamento sem cirurgia (cateterismo). As graves e moderadamente graves, têm hoje em dia possibilidades de excelentes resultados com a cirurgia. As crianças ultrapassam estes desafios com uma boa-disposição e energia espantosas. As cardiopatias muito graves, têm solução cirúrgica, algumas em diferentes etapas. Algumas acabam em transplante cardíaco, e os resultados são mais preocupantes. O casal deve esclarecer-se, procurar apoios e manter diálogo, um com o outro, com a família e amigos, com outros Pais que passaram pelo mesmo, com o médico, eventualmente com o psicólogo. Esta é uma experiência difícil, mas não desesperante, que chegada ao fim resulta quase sempre numa criança feliz, que, se não for super-protegida, anda e cresce descontraidíssimo. Estes são Pais que, com as suas dúvidas e angústias, cresceram mais como pessoas e casal, e formaram uma família mais unida, mais preparada para testemunhar, junto dos mais jovens, como enfrentar certas dificuldades...




terça-feira, 28 de maio de 2013

DOENÇA DE KAWASAKI

Os Pais devem tomar consciência desta doença infantil, porque o tratamento feito a tempo pode evitar complicações cardíacas graves. Na primeira metade do século vinte, a doença que atacava mais o coração era febre reumática. As suas complicações cardíacas grassaram no mundo ocidental, mas pouco a pouco foi ficando controlada, ao descobrir-se e dominar-se a infecção que está na sua origem. Actualmente é uma doença rara entre nós. Hoje é a doença de Kawasaki, descoberta no Japão nos anos 60, que nos países desenvolvidos, começa a ser a principal causa de doença cardíaca que pode afectar uma criança saudável, sobretudo crianças abaixo dos 5 anos. E em Portugal pode afectar 5/100.000 crianças nesta idade, mas este número pode estar sub-estimado. A causa não se conhece ainda, mas parece ser infecciosa talvez viral, e uma criança na primeira infância, saudável, começa com febre e sintomas respiratórios, tipo constipação, com tosse e secreções nasais. A FEBRE, 38 ou mais graus, é obrigatória nesta doença, e não desaparece mesmo que ao fim de 4 ou cinco dias a criança já esteja a tomar antibiótico. Entretanto aparecem manchas na pele pelo corpo, os pés e as mãos ficam inchados, os olhos ficam vermelhos e inflamados, mas sem secreção, os lábios gretam, e a língua fica tipo framboesa. A criança mostra sinais de doença e fica muito irritada, surgindo também outro sinal importante que é um caroço, gânglio aumentado e doloroso no pescoço, em geral só num lado. Estas são as manifestações típicas que aparecem na primeira semana da doença de Kawasaki, e com estes dados evidentes não é difícil fazer-se o diagnóstico. No entanto, há formas incompletas, em que faltam alguns deste sinais, e o diagnóstico torna-se mais confuso. É que o diagnóstico é só clínico, não existe nenhum teste laboratorial definitivo, só existem testes orientadores ou de suspeita. Por isso há crianças que começam o tratamento só com base na suspeita, o que é defensável, porque se as complicações cardíacas surgem, já não se podem evitar. O diagnóstico deve ser feito na primeira semana, idealmente ao 7º, 8º dia desde o início da febre, porque é nesta fase que o tratamento é mais eficaz. Tratamentos muito precoces podem não ser tão eficazes, pelo que os Pais devem chamar a si a maior serenidade possível e colaborarem com o pessoal de saúde. A criança tem que ficar internada para fazer o tratamento que consiste numa dose de gamaglobulina injectada na veia durante 8 a 12 horas, e aspirina em dose alta. Rapidamente todos os sintomas desaparecem e a criança melhora, ficando bem disposta. Raras crianças têm que fazer outra dose de gamaglobulina porque não melhoram, sobretudo a febre não cede completamente. Não é habitual este tratamento dar complicações. Sem tratamento, cerca de 25% das crianças irão ter lesões cardíacas, mas com o tratamento descrito esta probabilidade reduz-se drasticamente. As complicações mais temíveis são as lesões das artérias coronárias, vasos que irrigam o coração, e que surgem na segunda ou terceira semana da doença. Surgem dilatações ou mesmo aneurismas, que se forem grandes vão ficar para a vida toda, e exigem um acompanhamento e tratamento especializado. Na segunda ou terceira semana de doença surge também descamação das mãos e dos pés, caindo a pele em placas, mas este é um sinal tardio e não conta para se fazer o diagnóstico, só para se confirmar. Em resumo, a doença de Kawasaki é uma doença séria e os pais devem conhecer os seus sinais: Febre com 5 dias Manchas no corpo Pés ou mãos inchadas Olhos vermelhos, lábios inflamados e gretados, boca e língua vermelha Gânglio grande num dos lados do pescoço Além da febre, não são obrigatórios todos estes sinais para se fazer ou suspeitar do diagnóstico. Se a febre persistir ao 5º dia, os Pais devem levar a criança a um serviço de urgência, mesmo que ela já tenha sido vista por um ou mais médicos e esteja a ser medicada. É que os sinais que dão o diagnóstico mais correcto, só então começam a surgir. Se for feito o diagnóstico de doença de Kawasaki, a preocupação dos pais é mais que legítima, mas devem também ter a noção tranquilizadora de que se o tratamento for feito nessa primeira semana, a criança fica bem de um dia para o outro, e fora de perigo, voltando a ser uma criança saudável.  


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